A armazenagem e o escoamento das safras agrícolas estão colocados na condição de pontos críticos para a ampliação da eficiência do Brasil no agronegócio.
Na contramão da produtividade, a capacidade estática do país é deficitária e a logística para movimentação das cargas agrícolas é ineficiente. Embora a capacidade estática de armazenamento tenha sido crescente nos últimos anos, ainda existe uma grande lacuna entre o volume de produção e a capacidade instalada.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) recomenda que a capacidade estática para que um país tenha segurança operacional seja de 120% da sua produção agrícola.
Nesse contexto, atualmente o déficit no Brasil seria de cerca de 70 milhões de toneladas.
O economista Antônio da Luz, afirma que, muito antes do país colecionar supersafras, já tinha uma deficiência de armazenagem de grãos muito grande.
O economista-chefe do Sistema Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul) ressalta que a situação da armazenagem brasileira se dá em dois níveis: primeiro, na baixa capacidade de armazenar (chegando no máximo a 90% da safra), e segundo, aonde está essa armazenagem.
“A maior parte dos 90% que conseguimos armazenar estão nas zonas portuárias. Outra parte está nas cooperativas e nas empresas cerealistas, e uma parte muito pequena está no produtor”, esclarece.
De acordo com o especialista em Agribusiness, nos últimos 15/20 anos ocorreu um boom de geração de capacidade instalada de armazenagem no Brasil. Porém, essa expansão rápida e abrangente não se deu no mesmo ritmo de crescimento da safra. “Tivemos um crescimento exponencial nas instalações. O problema é que aumentar uma safra de um ano para o outro, com ampliação de área plantada, por exemplo, é muito mais fácil do que construir uma unidade de armazenagem.”
Enquanto aumentar um hectare de plantio é uma decisão do produtor ou da empresa, fazer um silo é um projeto que envolve muito mais etapas e pode levar até um ano.
“Vencer a operação de levantar uma unidade armazenadora é um processo mais lento, pois precisa de um projeto de análise de viabilidade econômica, um projeto técnico e ainda todas as liberações nos órgãos governamentais. Por isso, temos a equivocada impressão de que não há investimento em armazenagem de grãos. O investimento não parou, ele acontece, mas em um ritmo mais lento.”
Antônio reforça que aumentar safra é muito mais fácil do que aumentar armazenagem, ressaltando que isso não é um problema brasileiro. “É assim em qualquer lugar. As supersafras são dinâmicas. A gente vê a armazenagem crescer, mas não é o trivial. As pessoas estão investindo, e muito. O problema é que não se consegue vencer todas as etapas burocráticas e creditícias com a mesma agilidade de se aumentar a área plantada.”
Considerando que o grão fica armazenado longe do produtor – principalmente, nas zonas portuárias –, a questão do frete assume posição determinante para o negócio. O impacto desse item no resultado do produtor depende de região para região. “Quanto mais afastado dos portos, maior é o percentual do aumento do frete na época da safra”, enfatiza o economista. Quando se compara o aumento da safra com o da infraestrutura para logística, a diferença é ainda maior. “A cada ano, com mais uma supersafra, se sobrecarrega a infraestrutura existente. Logo, a cada safra, a distância entre o maior e o menor preço de frente aumenta.” Segundo ele, a razão pela qual essa distância aumenta é justamente pelo fato de a infraestrutura de logística ser precária em relação aos aumentos de produção das últimas décadas. Quanto mais se produz, mais demanda infraestrutura. “A gente mal consegue aumentar a armazenagem, que dirá ampliar a oferta de estradas, ferrovias, hidrovias.”
Quanto mais se sobrecarrega a infraestrutura, mais necessário se faz o investimento em unidade armazenadora na propriedade. Quem tem armazenagem na propriedade não vende na safra, vende depois, quando o frete está mais baixo. “Essa é a receita para reduzir esse custo: não precisar escoar durante o olho do furacão, que é na safra.”
Antônio volta a frisar que na análise de viabilidade econômica precisa ser considerada essa diferença do frete, que, muitas vezes, pode ser o suficiente para que a margem tenha um aumento percentual significativo. “Às vezes, 10% de diminuição nos custos podem representar 100% de lucros”, reforça, recomendando atenção nesse ponto.
Contribuição especial: Antônio da Luz - Economista-chefe do Sistema Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul) - Especialista em Agribusiness
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